Em uma manhã de 1993, a Seleção Brasileira seguia concentrada na Granja Comary, em Teresópolis/RJ, na semana decisiva para o duelo contra o Uruguai, pela última rodada das Eliminatórias da Copa do Mundo. O atacante Müller, machucado, tinha sido cortado e Romário chamado as pressas. O clima não era dos mais leves, já que uma derrota para os uruguaios, no Maracanã, deixaria o Brasil fora de um Mundial pela primeira vez na história. Mesmo assim, o planejamento da seleção brasileira não foi alterado. Com isso, a visita de um grupo de crianças e adolescentes de uma escola particular do Rio de Janeiro a concentração foi confirmada.
A promessa era que os jovens poderiam assistir ao treino, tirariam fotos com os jogadores, pegariam autógrafos e, de quebra, poderiam utilizar um campo de socyte do local. Contudo, a primeira frustração do grupo veio logo que o ônibus chegou a Granja Comary. O treino da manhã foi cancelado e a atividade só aconteceria a tarde, o que impediria que as crianças a assistissem. Porém, o pior estava por vir. Na portaria, o segurança barrou a entrada de todos. As ordens, segundo ele, eram do “doutor Américo Faria”, supervisor da seleção. A arruaça, então, estava formada, com o professor da escola tentando contornar a situação, enquanto os jovens protestavam.
Ao ver a bagunça, Zagallo, que concedia entrevista próximo ao lago da entrada da sede, interrompeu o papo com os jornalistas e foi verificar o que ocorria. Ao receber as explicações do professor, pegou o telefone e, aos berros, deu uma sonora bronca em Américo Faria. Na sequência, quebrou o protocolo e pacientemente, organizou uma fila das crianças e concedeu autógrafos e posou para fotos com todas. Logo depois, voltou ao telefone e, novamente aos berros, ordenou a Américo Faria que alguns jogadores descessem.
- Pode mandar descer jogador aqui. Temos convidados e não é dessa forma que vamos tratá-los. Isso aqui é seleção brasileira.
Em 15 minutos, Jorginho, Mauro Silva e Gilmar Rinaldi apareceram, para alegria da molecada. Pouco tempo depois, foi o técnico Carlos Alberto Parreira quem desceu. Contudo, a alegria virou revolta minutos depois, quando Américo Faria fez valer seu peso na comissão técnica e proibiu a “pelada” entre os jovens. Zagallo tentou, mas, desta vez, foi “voto vencido”.
Na despedida, o velho Lobo pediu desculpas e foi ovacionado pelas crianças, que o chamavam de “vovô Zagallo”. Como um patriarca, ficou parado, acenando, vendo o ônibus cruzar o portão da Granja e, de repente, parar. Foi aí que a garotada aprontou. Fora da sede, os jovens foram as janelas e, em coro, xingaram Américo Faria. “Américo, viado, Américo, viado....”. Zagallo, então, não se segurou. Caiu na gargalhada, riu demais e, no fim, acenou de novo para o grupo, fazendo sinal de positivo.